11 de dezembro de 2010

Problema

Uma das ricas experiências que tive foi o trabalho com alunos vindos de EJA (Educação de Jovens e Adultos). O simples fato de retornarem aos bancos escolares, alguns já avós, é admirável, e, mais ainda, pela vontade de aprender que demonstram. Certamente, qualquer know-how acadêmico e os anos de magistério não me prepararam para a pretensão de ensinar Língua Portuguesa a esse público.

Todas as aulas foram laboratórios pedagógicos que questionaram a minha prática e apontavam para uma direção que a gramática não satisfazia. Um namoro com as teorias linguísticas teve início. O vazio de que tudo o que sabia era muito pouco tomou corpo e se instalou em mim. Estudar imensamente mais era urgente... muito urgente... URGENTÍSSIMO!!!!!!!!

A presença de uma cultura popular da qual eu não tinha conhecimento e de uma forma de expressão diferente da minha, mas eficiente, faziam-me sentir apreensiva. Despojar-me de preconceitos era fundamental para o estabelecimento de um diálogo. Naquele momento, eu era quem mais precisava aprender. Foi necessário falar menos e ouvir mais.

Numa das vezes em que prestava atenção às conversinhas paralelas que ocorriam durante a aula, tive a certeza de que o vocabulário consagrado pela norma culta pode não fazer qualquer sentido e, pior, atrapalhar a comunicação do docente. Não estou aqui querendo dizer que a língua padrão deve ser ignorada por nós, professores, porém o respeito às variantes linguísticas e, principalmente, a consciência de que elas estão presentes no ambiente escolar são o nosso ponto de partida.

Sem filosofar mais, vou contar o consenso acerca do que deixei escrito no quadro, enquanto ouvia, como uma alcoviteira, as reflexões de dois desses alunos extraordinários.

_ O que está escrito lá?

_ Pro – ble – ma. “Poblema” – concluiu.

_ Mas como é que se fala isso? Não é pobrema? – arrematou bastante irritado.

_ É assim: “poblema” – explicou – é quando é meu. “Pobrema” é quando é seu.

_ E problema?

_ Ah, problema só tem na escola!

Não foi uma conclusão lógica?

Um comentário:

  1. A-DO-REI !
    tenho alguma experiência em educação de jovens e adultos. mas pouca. a primeira delas ha 9 anos atrás, como voluntária num projeto.
    a última delas nas duas últimas semanas, aplicando provas do SAERJ.
    Realmente é, acima de tudo, uma experiência onde escorre pelos dedos as teorias q aprendemos na faculdade. E tb foge da prática com adolescentes. Eles tem mais dificuldade (não todos) porém muito interesse ! e a vivência com eles é bem agradável.
    Raquel.

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