7 de julho de 2011

Afetividade e aprendizagem

Entrar na educação pública foi uma grande escola. O que considerava importante ou fútil teve de ser reformulado. Se antes valorizava muito o conteúdo, a escola pública mostrou que a afetividade é fundamental.

As primeiras situações vividas nas salas de aula da escola estadual constituíram-se em verdadeiros choques, depois de nove anos de magistério na escola onde estudei e compreendia facilmente os anseios daquela comunidade. É lógico que o trabalho fluía sem grandes crises. Elaborar atividades para os alunos parecidos comigo, quando era criança, poderia ser uma diversão. Tudo dava certo. Já na escola pública...

Nada do que eu planejava, incicialmente, tinha êxito. Não conseguia perceber qual era a bagagem que cada um dos alunos carregava, seus anseios e necessidades. Foi a primeira vez que me senti completamente impotente. Encarar a fome e a pobreza foi terrível. Tive a certeza de que eu nada sabia da vida. Não é possível aprender coisa alguma quando o estômago está vazio ou quando se sente frio, mas o agasalho não faz parte dos pertences. A cabecinha também não funciona se os piolhos irritam. Preciso confessar que minha cabecinha também não funcionava com um chulé pra lá de azedo que insistia em sair mesmo de pés calçados. Só então entendi o que é esse tal de chulé!

Na lista de prioridade dessas pessoas não estava o "ba-be-bi-bo-bu" e eu por um bom tempo insisti, aprisionada pelos velhos padrões da formação que recebi. O fracasso das minhas aulas era do tamanho da minha insistência. Primeiro foi preciso amar apenas. Não foi fácil, mas a descoberta de que o amor era a chave da aprendizagem até hoje me emociona. Foi fantástico descobrir que para ser entendida era fundamental estabelecer uma relação de afetividade, antes. E quando parecia que jamais falaria a língua do aluno, descobri a linguagem mais universal: O AMOR.

Assim vem se configurando minha atuação na escola pública. As experiências mais bem sucedidas foram nos lugares onde criei laços, formei vínculos com alunos e colegas de profissão. Quanto mais sou capaz de me aproximar das pessoas melhor me faço compreender.