6 de março de 2012

Como em um conto de fadas

A sala de professores de uma escola é um lugar interessante. Nela tomamos o nosso santo cafezinho, compartilhamos experiências pedagógicas, consultamos materiais para planejamento, elaboramos desesperadamente o que não deu tempo de fazer em casa, desabafamos, contamos piada, falamos mal dos governos e até fazemos compras!!!!

Dia desses, na sala de professores, comentávamos sobre a imagem idealizada de professores que paira no pensamento dos nossos alunos. Obviamente, incomoda bastante sabermos que a todo momento alguém nos analisa e, inevitavelmente, solta aqueles comentários "Nossa, mas o professor falou isso?", "Que roupa para uma professora!", "Ela estava namorando!" e outras coisas do gênero. É inegável o peso do modelo que devemos ser, mas saber de um monitoramento a cada minuto não pode deixar ninguém à vontade.

Assim como avaliamos os alunos, também somos avaliados frequentemente, só que as expectativas sobre nós são de uma perfeição impossível para qualquer ser humano comum, e, com crianças pequenas, podem se tornar mágicas. sobrenaturais...

Gosto de contar histórias da minha infância para os alunos. Não com a finalidade de enrolar a aula, mas para criar alguma identificação. Quase sempre, a resposta é ótima (continuo convencida de que a afetividade contribui com mais de 50% para a aprendizagem). Eles conseguem perceber que nada em nossas vidas vem de graça: é preciso ralar. Como diz um amigo meu "o normal é a gente se dar mal" - o vocabulário não é bem esse, mas como este é um blog de professora, não "pega" bem utilizar as palavras originais, apesar de serem bem mais expressivas. Podem usar a imaginação e acrescentar os palavrões que imaginarem adequados à citação do autor desconhecido para você e muito meu conhecido.

Em uma dessas minhas tentativas de criar empatia, um menino, interessadíssimo, arregalou os olhos e expressou uma interjeição, quando eu disse "Quando eu era da idade de vocês". Perguntei a ele o que havia de errado, e ele me perguntou, "Ô tia, você tem mãe?". Expliquei a ele que sim, etc. etc. etc. Não consigo esquecer da carinha de espanto do garoto por imaginar que eu passava pelas mesmas etapas da vida que as outras pessoas, nem posso ignorar a enorme responsabilidade por significar, para alguns alunos, alguém com "poderes incomuns", como o de nascer espontaneamente. Foi a tradução de uma admiração ingênua e linda.