16 de novembro de 2011

"Dolce far niente" atendido

Tenho dificuldade de entender por que os alunos normalmente gostam de ir à escola para ficar no "dolce far niente". Sinceramente, levantar cedo para entrar às 7h e querer ficar à toa foge completamente ao meu entendimento. Nada me aborrecia mais do que chegar no colégio e não ter a primeira aula. Dava uma peninha de deixar meu travesseirinho... Afinal, ir para a sala de aula significava, pelo menos para mim, anotar as matérias, realizar as tarefas, prestar atenção, ah!... essas coisas em completo desuso nos dias de hoje.

Por diversas vezes, nos meus anos de magistério na escola pública, ouvi "essa professora não fica doente não?", "Poxa, quando ela vai faltar?", "Já chegou... ai, meu Deus!, vai começar...". Sempre engoli os comentários com má vontade, tendo certeza de que teria uma indigestão um dia desses, mas o que se há de fazer? É melhor fingir que não ouvi. Depois de tanto pensamento positivo (ou negativo), o dia de não fazer nada chega mesmo.

Há poucos dias, sofri um acidente na subida da serra. Liguei para a escola, avisando sobre o que aconteceu e, é lógico, não cheguei para as primeiras aulas, pois precisava tomar as providências inevitáveis: registrar boletim de acidente de trânsito, chamar reboque, levar o carro para conserto da parte mecânica, além de esbravejar e imaginar o quanto meus alunos deveriam estar contentes pelos momentos de ócio, como também lamentar pelo atraso na minha programação de fim de ano, já pra lá de apertada. Coisas da vida...

Cheguei já após o recreio, morta de vergonha pelo atraso. Na janela, os alunos da turma em que deveria estar em plena aula esperavam por mim ansiosos por notícias. Queriam saber se eu estava bem, se eu tinha seguro... Gelei. Esperava outra reação dos meninos: lamentar a minha chegada, ou dizer que eu não precisava me preocupar com as aulas daquele dia, coisas assim, mas o oposto aconteceu.

Terminei a manhã com os alunos querendo saber se eu já havia procurado um médico e uma criatura com a cabeça nas minhas costas pedindo,, "Professora, fale 33 pra eu saber se a senhora está bem." Não sabia se ria ou se continuava a aula, o que foi impossível, já que o nervosismo da situação finalmente tomara conta de mim, deixando minhas pernas meio bambas, não sei se pelo acidente, ou se pela surpresa da paparicação dos alunos, que, obviamente, queriam dar uma enroladinha (não nasci ontem).