Abraham vai tarde
A passagem de Abraham Weintraub pelo Ministério da Educação, ao contrário do que se pensa, não foi um tempo apenas de ausência de projetos, mas, antes de tudo, um tempo de destruição.
A ausência de projetos já seria por si só um problema, porém era o problema que apenas escondia uma estratégia para emperrar uma engrenagem que molda o futuro de uma Nação. A educação, que diariamente enfrenta muitos desafios, teve de lidar com o discurso ideologizado que transfere ao outro os males do próprio intento.
Contabilizam-se inúmeros ataques a universidades, colecionam-se incompreensões da realidade, shows para o Twitter, usos equivocados da língua, provocações. Com um discurso lacrador e adolescente, o ex-ministro demonstrou que as únicas prerrogativas que o levaram ao cargo foram ser olavista e puxa-saco.
O papel de articulador da tecitura educacional durante a pandemia ficou esquecido por trás das declarações antidemocráticas e do pensamento de que, para ser brasileiro, é preciso encaixar-se num padrão que não abriga a diversidade presente no território nacional. Urgem a inclusão digital e as discussões sobre o Fundeb, mas as fantasias sobre plantações de canabis nos quintais das universidades públicas, reconhecidamente instituições de excelência, procuravam minimizar as desigualdades presentes no âmbito da educação.
A ilusão meritocrática pretende culpar professores pelas diferenças abissais de oportunidades que dividem injustamente os alunos. Não seria a cartilha Caminho Suave nem os livros revisionistas prometidos para os próximos anos, que promoveriam as transformações desejadas. Seriam apenas mais cortinas de fumaça, como tantas outras, que desviaram nossa atenção.
Arrasados com as nefastas declarações da reunião ministerial, esperávamos a exoneração do fanfarrão, contudo receosos, já que nesta aventura que representa o governo, o que é ruim sempre pode piorar.