21 de agosto de 2012

Alegria de aprender

Há poucos dias assumi a coordenação de uma escola do município de Petrópolis que recebe alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Estou muito enferrujada na orientação para o 1º segmento e nem lembrava mais das diferentes "naturezas" das dificuldades com as quais precisamos lidar. É bem verdade que não assistimos só aos problemas: quando há crianças pequenas envolvidas também há muita gargalhada - e isso é maravilhoso!

Em uma das tentativas de "reconhecimento de terreno", marquei reuniões individuais com as professoras, com a intenção de, minimamente, entender os principais problemas. Comecei por uma das turmas de alfabetização da escola. No dia, as faltas de professores que estavam doentes e a natural confusão de um lugar que passou por uma obra não permitiram que o atendimento acontecesse na sala da direção, pois os inspetores não poderiam ficar com os alunos em sala. Havia outros incendios a apagar: administravam o recreio dos diversos horários e as salas de aula sem os professores que tiveram de se ausentar. Para que a reunião não fosse adiada, a solução foi ficar com as professoras dentro da sala de aula  e com a aula rolando. 

 O improviso foi a melhor alternativa. É impossível não ficar admirada com a dedicação de algumas profissionais que abraçam todas as causas: o abandono da família, a falta de estrutura da rede, as dificuldades de aprendizagem dos alunos e outras tantas, que fariam parte de uma lista interminável capaz de desestimular qualquer um, menos: a professora comprometida que tive a possibilidade de observar e ouvir por quase uma hora.

Dividida entre as necessidades dos alunos, a angústia que traz a responsabilidade da inserção da garotada no mundo letrado e a reunião convocada por mim a professora apaziguava os conflitos, ensinava e ainda conseguia dar atenção as minhas solicitações. Admirável! Eu não seria capaz, sinceramente. E tudo planejado, caprichado, pronto para expor à apreciação da chatinha da orientadora .

Ao distribuir um alfabeto ilustrado, a fim de conseguir tranquilidade para a reunião, explicava a atividade aos alunos. Finalmente, entregou a letra "P" e perguntou a eles, como ao distribuir outras letras, palavras que a continham. Imediatamente, um sorriso desdentado e adorável surgiu. O menino levantava os bracinhos e gritava com alegria "É o 'P' do meu amigo Pedro!!!!!!" A felicidade seria a mesma caso o time de futebol do coração saísse vitorioso na decisão de um campeonato importante, ou se o doce mais gostoso fosse entregue só a ele.  Essa alegria de aprender me emocionou.

O episódio me deixou meio anestesiada todo o dia. De vez em quando, lembrava daquela alegria e me perguntava em que momento nossos alunos perdem a felicidade de aprender que presenciei. Que produções não teríamos, se conseguissem vibrar com as descobertas por toda a vida escolar? Como conservar a espontaneidade e o prazer do conhecimento que o simpático garotinho demonstrou? Preciso das respostas.

6 de março de 2012

Como em um conto de fadas

A sala de professores de uma escola é um lugar interessante. Nela tomamos o nosso santo cafezinho, compartilhamos experiências pedagógicas, consultamos materiais para planejamento, elaboramos desesperadamente o que não deu tempo de fazer em casa, desabafamos, contamos piada, falamos mal dos governos e até fazemos compras!!!!

Dia desses, na sala de professores, comentávamos sobre a imagem idealizada de professores que paira no pensamento dos nossos alunos. Obviamente, incomoda bastante sabermos que a todo momento alguém nos analisa e, inevitavelmente, solta aqueles comentários "Nossa, mas o professor falou isso?", "Que roupa para uma professora!", "Ela estava namorando!" e outras coisas do gênero. É inegável o peso do modelo que devemos ser, mas saber de um monitoramento a cada minuto não pode deixar ninguém à vontade.

Assim como avaliamos os alunos, também somos avaliados frequentemente, só que as expectativas sobre nós são de uma perfeição impossível para qualquer ser humano comum, e, com crianças pequenas, podem se tornar mágicas. sobrenaturais...

Gosto de contar histórias da minha infância para os alunos. Não com a finalidade de enrolar a aula, mas para criar alguma identificação. Quase sempre, a resposta é ótima (continuo convencida de que a afetividade contribui com mais de 50% para a aprendizagem). Eles conseguem perceber que nada em nossas vidas vem de graça: é preciso ralar. Como diz um amigo meu "o normal é a gente se dar mal" - o vocabulário não é bem esse, mas como este é um blog de professora, não "pega" bem utilizar as palavras originais, apesar de serem bem mais expressivas. Podem usar a imaginação e acrescentar os palavrões que imaginarem adequados à citação do autor desconhecido para você e muito meu conhecido.

Em uma dessas minhas tentativas de criar empatia, um menino, interessadíssimo, arregalou os olhos e expressou uma interjeição, quando eu disse "Quando eu era da idade de vocês". Perguntei a ele o que havia de errado, e ele me perguntou, "Ô tia, você tem mãe?". Expliquei a ele que sim, etc. etc. etc. Não consigo esquecer da carinha de espanto do garoto por imaginar que eu passava pelas mesmas etapas da vida que as outras pessoas, nem posso ignorar a enorme responsabilidade por significar, para alguns alunos, alguém com "poderes incomuns", como o de nascer espontaneamente. Foi a tradução de uma admiração ingênua e linda.