19 de março de 2020

Renuncia, Jair!

A falta de preparo de Jair era evidente. Um parlamentar que durante quase três décadas não teve qualquer relevância e, quando tinha visibilidade, era apenas por suas declarações polêmicas, raivosas e autoritárias, não poderia sequer pensar em ocupar o cargo de maior liderança do País.

Só que surgiu o Bolsonarismo. Sim, este é o termo para um conjunto de ideias de ressentimento, desprezo à democracia e de exclusões diversas. Uma das múltiplas expressões da extrema-direita, que toma corpo no mundo, assume prática política autoritária e aplica o neoliberalismo.

O antipetismo, que joga todas as esquerdas no mesmo balaio, fabricado nos bastidores pela direita, que vinha organizada para voltar ao poder desde 2005, embora não tenha alcançado sucesso, utilizou a bandeira contra a corrupção - necessária, porém deturpada no modus operandi - para conquistar incautos. Com apoio da imprensa tradicional, o movimento pescou todos os insatisfeitos e até os emergentes, beneficiados pelas políticas distributivas.

Este público, até então alienado e preocupado em vender o almoço para comprar o jantar, matando um leão por dia para sobreviver, começou a ter a informação nas mãos, porém pouca bagagem de conhecimentos históricos, de formação ética e parcas habilidades de interpretação. Um coquetel perfeito para manipulação em infusão no desejo de vingança, aparentemente indeterminado, já que a fama de pacífico nubla toda a agressividade observada nos estudos de formação do povo e que romantiza uma história contada por vencedores.

Neste cenário, o monstro foi criado, e a ideia comprada por todas as vozes, que ampliaram um movimento que se denominava patriota. Um patriotismo de fachada, reduzido a vestir verde e amarelo e a cantar o hino, desprovido de consciência de coletividade e de empatia. Um coro reacionário, fantasiado de conservador, que repudiava os Direitos Humanos, menosprezava a Ciência, trazia falsos cristãos como aliados, com planos extremistas. A pitada de filosofia barata temperou uma bomba.

Jair soube se aproveitar da situação. Aquele político medíocre refletiu o pensamento do brasileiro médio, que enfrentava uma crise e agarrava-se ao deleite de ter experimentado alguns prazeres possíveis somente em consequência da política econômica dos anos de prosperidade. Os erros não foram perdoados. Não contávamos mais com um político que conseguisse tão habilmente construir alianças e, em época de pouca farinha, meu pirão deve ser garantido.

Durante a campanha, Jair foi sincero. Nunca se mostrou com educação refinada, nem tentou disfarçar o que não sabia. Suas opções eram sempre pela tosquice, mas a elite havia rompido com o acordo de permitir a ascensão dos excluídos. Não importava a incapacidade. Havia uma identificação daquele que ascendia do baixo clero com uma maioria iludida pelo liberalismo falacioso, ajudado pelo uso competente das redes sociais e das Fake News.

Foi eleito democraticamente, ganhou nas urnas. Incontestável. Teve apoio daqueles que são seu espelho, os bolsonaristas raiz, dos encantados pela flauta antipetista, dos que se diziam sem opção, picados pelo antiesquerdismo sem fundamento e dos que foram passear no domingo, sem compromisso com o sufrágio.

Depois de pouco mais de um ano, a ficha cai. Mas sinto muito. Ninguém foi enganado.

O que fazer com um presidente que só joga para a galera, tem mania de perseguição, nada sabe dos processos de governança, só sabe provocar crises, ideologiza tudo, pauta comportamentos, é adepto de teorias conspiratórias, é amante do autoritarismo e incentivador de uma Teocracia?
Além das mazelas pessoais, as políticas adotadas não dão conta de um país tão complexo e deixam a incompetência cada vez mais desnuda.

Em trinta anos, dois processos de impeachment desmascaram uma democracia não consolidada. As instituições não têm respondido à altura. Dificilmente, neste momento, um novo pedido de impedimento passaria. Não há consenso. A lei do impeachment é muito específica.
Resta a esperança de que Jair renuncie, que reconheça sua incapacidade de gerir o país e de fazer política externa e até a volúpia política dos filhos.
Porém, ele é um orgulhoso da própria ignorância.

8 de março de 2020

Dia da Mulher, dia de reflexão

Dia da Mulher não é data para romantismo, mas é o dia para relembrar a luta pela emancipação, pela igualdade e para vislumbrar um longo caminho a conquistar.

É comum que membros de classes sociais esclarecidas e que já usufruem conquistas feministas questionem se a celebração deste dia não é exagerada ou até ultrapassada.

É importante olhar ao redor e além.
Em muitos lares, mulheres são controladas, espancadas, apesar de trabalharem, não decidem o que fazer com o próprio salário, são as únicas responsáveis pelo trabalho de casa, que não acaba e escraviza, não tem hora e ainda é sinônimo de culpa, se não estiver perfeito e em dia.

Mulheres são acusadas de terem provocado a violência por usarem roupas curtas. Mas onde está escrito que a roupa autoriza ações não consentidas? Estupro não é sexo. Sexo é consentido.

Mulheres são desrespeitadas por não se enquadrarem nos padrões de beleza. A estas são negadas vagas de emprego por este motivo. Não vemos homens serem desrespeitados por terem barriga, cabelos brancos. Algumas marcas masculinas são consideradas sinais de virilidade, enquanto mulheres são depreciadas e adjetivadas como velhas, gordas, passadas e outros desmerecimentos.

Às mulheres são impostas escolhas, como, por exemplo, a maternidade. Mas não seria escolha? Que contradição!

A sexualidade das mulheres é tolerada até certo ponto. Se "passar da medida" é vagabunda. Mas qual é a medida? Se não for o mesmo metro que permite a dos homens, é injusta.

Quando a mulher tem filhos, cobra-se dela abdicar sempre por eles. Se sozinha, então, não pode sair, precisa fazer malabarismos para encontrar momentos consigo, necessários, primordiais.

Poderia listar outros tantos desequilíbrios, mas não vale a pena. Vivemos em um momento em que algumas mulheres rejeitam o feminismo e se denominam femininas, sem perceber que caem de novo nas tramas dos padrões que nos "coisificam".

Até nisso retrocedemos, e fico pensando no quanto a minha geração deixou de fazer.

Ainda dá tempo. Vamos à luta!