20 de fevereiro de 2019

Ervilha chique

Estava no mercado sem muita pressa, quando dois adolescentes, ou pré-adultos, chamaram minha atenção. Pareciam irmãos.

Os dois analisavam a prateleira de enlatados com muita preocupação e, a todo momento, liam a listinha de compras. A falta de prática para a missão era evidente. Os poucos itens da cestinha estavam amontoados, os mais pesados amassavam os mais leves. As latas eram retiradas e, novamente, devolvidas, rodavam nas mãos, enquanto os olhos percorriam as letrinhas, mas nada encontravam.

- E agora? Não tem! - bateu o desespero.

- Ah, liga pra mãe! - aconselhou a mocinha que tinha as sobrancelhas arqueadas e os olhos assustados.

Resignado, o rapaz ligou. 

- Ô, mãe! Aquele negócio de nome difícil, petit pois - a pronúncia um pouco insegura -, que você mandou comprar, não tem!

Mostrei a lata de ervilhas e disse que era a mesma coisa para a moça. Imediatamente, ela corou e sorriu, como em agradecimento.

- Ah, mãe, pode deixar... a moça aqui ajudou. Mas por que não disse que queria ervilhas? Tão simples! Tinha que complicar?

Eles acomodaram a latinha na bagunça da cesta e dirigiram-se ao caixa. A expectativa de um almoço requintado deve ter se desmanchado, mas, sem dúvida, o vocabulário estava mais rico, embora não parecesse importar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário