4 de maio de 2011

Vaidade de principiante

Durante uma conversa com um jovem professor da escola onde sou coordenadora pedagógica, fiz uma viagem no tempo e voltei aos meus primeiros anos de profissão, quando almejava, um dia, ocupar os lugares mais valorizados da escola. Na verdade, os lugares que eu julgava mais importantes e que o passar do tempo me fez perceber serem apenas ocupados por quem cansou de roer o osso.

As séries iniciais de qualquer nível educacional são aquelas que demandam um desgaste enorme do professor. Haja paciência... "Tia, acabou a linha, e agora?", você explica o que fazer e o menino ainda tem a ousadia de dizer "Tia, acabou a folha... ". É preciso cuidar do dedinho que foi ferido pelo apontador, apaziguar as brigas, abrir a merendinha e, como se não bastasse, ensinar a ler e a escrever!

O sufoco continua e o professor desse nível sonha em ocupar as turmas nas quais tenha de se preocupar somente em transmitir o conteúdo, pois o mais desgastante outro já fez. Em compensação, não receberia os maravilhosos sorrisos desdentados, nem os beijos melados de pirulito e a gratidão da família pelo abraço acolhedor daquele dia de febre.

Próxima etapa: "Professor, é aula de quê?", "Qual é o caderno, hein?", "Que horas é o recreio?", "Xi! Anotei o dever de Artes no caderno de Matemática...". A importância do docente comprometido é primordial. De alguém que auxilie no entendimento do horário e do rodízio das aulas, que dê uma forcinha na utilização do caderno de matérias e que ainda finja que não ouviu o "tio" que escapou do sujeito atrás da carteira, fazendo questão de mostrar que já é um homenzinho, apesar de estar doido pra correr e pular no colinho da mãe, após tantas mudanças. Ser afetuoso na medida certa e ainda ter de planejar, apresentar o seu conteúdo, realizar projetos com outros professores, preencher os milhões de diários de classe. Esse é só o início da lista de afazeres. E aí vem o sonho do Ensino Médio. "Lá, sim, estão os alunos que entendem o que dizemos. Estudamos tanto, há tanto a dizer!"

Mero engano. Só ensinar conteúdos é o mais fácil da profissão. Mais difícil é ensinar, quanto menor for a bagagem dos nossos alunos e isso tira o foco do conhecimento específico do professor. Somos muitas vezes vaidosos, gostamos de mostrar o quanto sabemos sobre os assuntos sobre os quais nos debruçamos, mas a escola não é lugar de vaidades. Todos são importantes, como todos os tijolos de uma construção. Vários saberes são essenciais para um professor e a proficiência em sua especialidade é só um deles.

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