14 de junho de 2020

As Lives de Jair


O eleitorado de Jair precisa ser alimentado o tempo todo com o ódio aos inimigos imaginários: o comunismo, os ex-aliados, qualquer um que contrarie as ideias do Mi(n)to, as minorias. 

Jair foi um acidente. Todo brasileiro com o mínimo de consciência republicana e espírito democrático é capaz de perceber que a eleição desta caricatura foi um desvio de percurso.

Jair não entende de economia nem de coisa nenhuma importante para o crescimento da Nação, é completamente despreparado; vilipendia a democracia ao admirar ditadores; fere os direitos humanos ao cultuar torturadores; afronta o Estado laico ao impor a prevalência de um credo; atropela conquistas democráticas ao negar direitos civis; particulariza o que é público; nega a beleza da diversidade; personaliza o interesse público ao beneficiar a família e os amigos; institucionaliza a violência; apequena a soberania ao submeter-se ao Tio Sam voluntariamente; interpreta conforme a conveniência a Constituição.

Apesar de tudo isso, o ódio funciona como uma venda, e o Bolsonarismo raiz permanece no apoio e radicaliza as ações na mesma medida em que o presidente leva o discurso ao extremo. É como funcionam as transmissões ao vivo. O apogeu do absurdo a serviço da distorção da realidade e da manipulação 

Nessa quinta-feira, assistimos estupefatos ao mandatário incentivar o eleitorado a entrar em hospitais e filmar leitos vazios, a fim de confirmar a narrativa da gripezinha e do falso benefício do contágio de rebanho. Apesar de a referência ser constantemente depreciativa, refiro-me aqui ao termo técnico, da corrente que defende o contágio em larga escala para o desenvolvimento de imunidade, mas que expõe a uma letalidade insustentável.

O presidente ainda demonstra a intimidade com a Polícia Federal, quando citou a possibilidade de um contato direto para enviar os vídeos que chegariam com leitos vazios e que contribuiriam com o discurso de que a pandemia é uma fantasia. Os protocolos dos processos legais parecem alegorias dispensáveis, na distopia na qual nos transformamos.

Mas e daí?

O que importa é manter o absurdo, banalizar o mal até que nada disso possa surpreender o cidadão comum, aquele que apenas tenta sobreviver à fome e às crises fabricadas a cada dia por quem só se importa com o próprio umbigo e que poderá, no turbilhão, aceitar a opressão e a morte.

Ainda aguardo uma visita aos hospitais, mesmo que seja uma passada fiscalizadora, ainda espero da suposta liderança um aceno de solidariedade a tantas perdas, massificadas nas estatísticas frias, quando minimizam as histórias da poesia gerada por cada vida enredada no cotidiano rico da individualidade múltipla das famílias que sofrem com o adeus silencioso.

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