16 de março de 2011

Internetês: do Bem ou do Mal?

Incentivar alunos à produção de texto sempre foi uma empreitada pesada em sala de aula. Até aqueles com criatividade privilegiada em atividades orais travam nas propostas de escrita. Observar esse bloqueio sempre se configurou como uma frustração no exercício da minha profissão, talvez, porque, desde criança, escrever fosse, para mim, uma "curtição". Assim que tive a consciência de que escrever era "apenas" materializar o que eu pensava (não que pense grande coisa...), registrar tornou-se na minha vida uma prática, para mais tarde revisitar e reelaborar reflexões. Só que vá explicar isso! Experimente! É quase uma tortura para quem quer convencer e para quem tem de ser convencido. Ufa! Cansa.

Curiosamente, depois da popularização das redes sociais, principalmente do Orkut, os alunos começaram a ter prazer de escrever no ambiente virtual, e só nele, pois na sala de aula ainda é um nó - fato que só me faz ter a certeza de que a escola não reproduz nada da realidade na percepção do estudante. Inicialmente, fiquei chocada com o "estilo" escolhido: um registro próximo das representações fonéticas que fazíamos na faculdade, nas aulas da disciplina de Fonologia. O mais intrigante é que consider as representações mais difíceis. Quando lia aquele nawn (não, em internetês), ficava achando que eram gênios. Eu e quase toda a turma no curso de Letras custávamos a chegar às formas de representar a linguagem oral. Hoje, entendo que estávamos presos às normas, já cristalizadas em nós, da escrita formal.

Logo depois desse primeiro contato com o modo adolescente de comunicação virtual, li um texto do Sérgio Nogueira que tentava derrubar o mito da nova forma de expressão nos docentes de Língua Portuguesa. A leitura me desestabilizou bastante e suavizou minhas críticas. É claro que ninguém fez qualquer apologia a mudar a norma culta, é bom esclarecer, senão a linguística fica com má fama. O foco era a clareza de que o tipo de escrita utilizado não deve ser considerado um pecado (desde que ficasse claro para os alunos que seria EXCLUSIVA do cibernauta em situação inteiramente informal).

Naquele momento, as considerações a que submeti as ideias do professor Nogueira pairavam apenas no aspecto da língua. Com o passar do tempo, percebi que os adolescentes adicionados as minhas páginas ficavam cada vez mais soltos nos recados que me enviavam e não se preocupavam se eu os corrigiria, porque tinham perfeita noção da diferença da relação que estabeleciam comigo na sala de aula e na rede. Não é de se estranhar que outros professores e autores observassem o mesmo que eu. Os novos livros didáticos foram elaborados com propostas de redação que simulam ambientes virtuais como o blog, e-mail e sites de mensagem instantânea.

Torço mesmo para que toda essa parafernalha tecnológia seja de nós, professores, uma aliada e que um dia esteja ao alcance de todos, tornando nossas aulas mais dinâmicas e próximas do que os alunos desejam aprender. O próximo passo, pelo menos da minha caminhada, é tentar ser menos jurássica. Será que consigo?


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